Verso

Semana que vem

Elias acordou no horário de sempre. Fez seu café da manhã preferido: ovos mexidos com fatias de bacon; estava muito bom, mas faltou um pouco de sal. Não demorou a comer, porque tinha que sair de casa daqui há pouco. Depois de tirar o pijama e colocar roupas limpas, passou desodorante, escovou os dentes e saiu. Foi se exercitar.

Talvez não tenha sido uma boa ideia sair para se exercitar poucos minutos depois de tomar o café da manhã, mas Elias não se importava muito com isso. Estava caminhando, quando recebeu mensagem de Amanda, sua amiga de infância. Era sua amiga mais próxima, no geral. “Você vai na festa do Pedro na semana que vem?”, ela perguntava. Mandou uma mensagem respondendo que sim, e em poucos minutos combinaram de ir juntos. Ela iria encontrá-lo em sua casa e juntos dividiriam o preço de um carro de aplicativo até a casa de Pedro. Pedro, aliás, era um amigo em comum que conheceram no ensino médio. Hoje em dia, todos os três estavam na faculdade, mas cada um cursando uma formação diferente.

Elias terminou seus exercícios matinais e voltou pra casa. Tomou um banho e se aprontou para trabalhar. Tinha o privilégio de trabalhar em casa, o que era ótimo para criar uma rotina saudável e cuidados físicos e mentais. Aquele era um dia importante no trabalho, pois era dia de entregar um grande projeto no qual Elias havia trabalhado bastante. A reunião de apresentação correu muito bem; seu chefe gostou bastante, apesar de pedir algumas alterações. É esperado; qual foi a última vez que algo foi aceito sem que pedissem pra mudar algo? O novo prazo de entrega era semana que vem. Ótimo, era tempo mais que suficiente para mudar o que fosse preciso.

Na pausa para o almoço, Elias retomou o livro que estava lendo. Era um mistério, seu gênero preferido. Tinha acabado de passar da metade, e já tinha um suspeito em mente. As pessoas geralmente culpam o mordomo, mas ele sabia que havia sido o melhor amigo da vítima. A menos que uma reviravolta surpreendente acontecesse, todos os sinais estavam ali. A escrita era envolvente, mas Elias se mantinha disciplinado a ler apenas 2 capítulos por dia. Naquele ritmo, terminaria a história na semana que vem.

Ainda tinha alguns minutos sobrando para o horário de almoço, e ninguém ligaria se ele demorasse um pouco mais, então Elias decidiu ensaiar um pouco de violão. Ele tocava há algum tempo, e tocava bem. Adorava samba. Estava ensaiando uma música há alguns dias e estava quase pegando o jeito, mas ainda precisava praticar um pouco mais. Mais importante ainda, precisava praticar para tocar de forma fluida, para que conseguisse cantar ao mesmo tempo que toca; uma tarefa especialmente difícil para quem se aventura a tocar um ritmo de samba. Apesar das dificuldades, estava indo bem, e deveria ter uma performance satisfatória na semana que vem.

Elias trabalhou o resto da tarde e, à noite, se arrumou para ir para a faculdade. Tomou outro banho e colocou novas roupas limpas, pois fazia muito calor e ele havia suado mesmo estando em casa a maior parte do dia. A aula foi ótima, pois seus professores eram ótimos; ele ouvia e anotava tudo com atenção. No final da última aula, o professor disse que semana que vem fariam uma revisão para a prova final do semestre. Era uma excelente notícia, já que Elias poderia ter uma boa referência em quais aspectos da matéria focar para se preparar.

As aulas acabaram por aquela noite. Saindo da sala de aula, Elias foi abordado por um colega de classe. “Eu e outro pessoal estamos indo para o bar agora, quer ir também?”, ele perguntou. “Hoje não consigo, estou muito cansado. Que tal semana que vem?”, Elias respondeu. Estava marcado.

Ao chegar em casa, Elias, apoiando-se em uma cadeira enquanto amarrava uma corda no pescoço, compreendeu que a semana seguinte jamais viria.