Verso

Pensamentos de uma quase madrugada

...que eu não queria estar tendo

Deus não existe. Se existisse, teria me matado.

Tem um copo de vidro quebrado em cima da mesa. Quebrou há uns dias, quando ele tava no sofá e eu joguei meu celular pra acertar a almofada, mas acabou acertando ele. Quebrou em vários pedacinhos. Agora ele tá na mesa, porque tô com preguiça de juntar ele com os outros vidros que tem aqui e descartar do jeito certo.

Quando cheguei em casa há aproximadamente 40 minutos, olhei pro copo quebrado. Pensei em pegar um caco de vidro e cortar minha garganta com ele. Esse pensamento durou 2 segundos, mas ainda existiu. Não fiz nada; minha garganta ainda tá inteira. Mas encarei esse copo por tempo demais.

Espero que a Bárbara não fique com raiva de eu ter ido embora da festa de formatura dela tão cedo. Acho que essa crise tá se estendendo desde o início da semana. Hoje talvez tenha sido só o ápice. Mas se ela ficar com raiva, também, não vai ser sem razão. Não é como se eu tivesse sido um bom amigo pra ela esse ano. Ou talvez nunca tenha sido.

Não acho que pertenço mais ao Spoiler. À Orange Wall, talvez; mas o Spoiler enquanto grupo, não. Acredito que lá tenha mais gente que me tolera do que gente que talvez realmente goste de mim. É muito ruim estar num ambiente com essa sensação.

The Wall, do Pink Floyd, talvez seja meu álbum favorito de todos os tempos. Já tem anos que eu conheço e ouço, mas recentemente o significado dele tem se tornado real demais. No The Wall Analysis, ele é descrito como:

From the outset, Pink’s life revolves around an abyss of loss and isolation. Born during the final throes of a war that claimed the lives of nearly 300,000 British soldiers – Pink’s father among them – to an overprotective mother who lavishes equal measures of love and phobia onto her son, Pink begins to build a mental wall between himself and the rest of the world so that he can live in a constant, alienated equilibrium free from life’s emotional troubles.

Eu grifei essa última parte porque ela é a mais importante. Acho que é uma boa imagem para como me sinto: construindo um muro que me separa do resto do mundo. Acredito que tudo o que aconteceu com a Bárbara tenha sido o “tijolo” mais explícito até agora pra revelar essa construção. Não acho que vá demorar muito mais até esse muro estar completo. O que mais me assusta, no entanto, é entender que ele está sendo construído e, em vez de parar, perceber que sou eu mesmo quem está construindo.